Questões de Trovadorismo e Barroco com gabarito


questões de barroco e trovadorismoEstas são questões bastante uteis para professores e estudantes que estão revisando o conteúdo de Literatura do primeiro ano do ensino Médio. neste caso, é necessário passar pelo Trovadorismo e pelo Barroco por serem períodos que influenciaram profundamente o pensamento do homem da época e o mundo das artes. Você poderá ver as questões de literatura do Enem abaixo e, em seguida, conferir o gabarito. Há ainda indicações de outros artigos aqui no site para que você também aprenda a fazer uma redação nota 1000 e também estude aspectos da gramática que são tema na prova do Enem. Observando seu desempenho será possível focar no que é mais importante e em que está deficiente.

Atividades de literatura com gabarito

QUESTÃO 27 (Descritor: Julgar a existência de uma contradição entre a fala da personagem e o tipo de texto em que esta se apresenta, no caso, o poema épico.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Camões épico – O Velho do Restelo

Leia as palavras do Velho do Restelo (Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões).

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NESTI, Fido. OS LUSÍADAS em quadrinhos. Peirópolis: São Paulo, 2006, p. 15-6.

Na epopeia, este é o momento em que as naus de Vasco da Gama estão deixando o porto para seguir até as Índias. JULGUE a fala do Velho em relação ao momento em que a epopeia se faz presente no poema.


QUESTÃO 28 (Descritor: Comparar um texto clássico com um texto moderno com o qual estabelece uma relação dialógica.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Camões épico X Fernando Pessoa, com “Mar Português”

Nota: Vale destacar que, a partir dessa questão, pode-se estabelecer interessante trabalho interdisciplinar com história.

O poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), no século XX, escreve o livro Mensagem, no qual foi publicado o poema “Mar Português”. Leia-o.

X. MAR PORTUGUÊS 

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

PESSOA, Fernando. Obra Poética. Nova Aguilar:

Rio de Janeiro, 1995, p. 82.

Retome as falas do Velho do Restelo apresentadas nos quadrinhos da questão 27 e COMPARE os dois textos (estabelecendo semelhanças e diferenças).


QUESTÃO 29 (Descritor: Sintetizar as críticas presentes em uma canção.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Quinhentismo brasileiro na contemporaneidade.

A Carta do Descobrimento, escrita por Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivão-mor da esquadra de Pedro Álvares Cabral, apresentava um panorama do que era a atual região de Porto Seguro à época do descobrimento, segundo o olhar do europeu.

Renato Russo (1960-1996), compositor do grupo Legião Urbana, na música “Índios” explora a visão do índio em relação ao europeu. Leia a canção.

Índios

Legião Urbana

Composição: Renato Russo

Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha

Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.

E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...

Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!

Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.

E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/92/ (Acesso em 19 de maio de 2010.)

SINTETIZE em um parágrafo a critica apresentada pela canção “Índios”, ressaltando esse olhar indígena em relação ao europeu.

QUESTÃO 30 (Descritor: Justificar uma afirmação a partir da analise de um texto.)

Nível de dificuldade: média.

Assunto: Cultismo X Conceptismo.

Leia os textos a seguir.

Texto I

“Tão inteiramente conhecia Cristo a Judas, como a Pedro e aos demais; mas notou o Evangelista com especialidade a ciência do Senhor, em respeito de Judas, porque em Judas mais que em nenhum dos outros campeou a fineza do seu amor. Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim : Amor non quaerit causam, nec frutum: “ O amor fino não busca causa nem fruto”. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há de ter porquê, nem para quê. Se amo porque me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, amo, ut amem: amo porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem é interesseiro; quem ama não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino. E tal foi a fineza de Cristo em respeito a Judas; fundada na ciência que tinha dele e dos demais discípulos.”

Sermão do Mandato, Pe. Antônio Vieira.

http://executivajunior.com.br/site/frases-ditas-pelos-homens-corporativos (Acesso em 21 de maio de 2010)

Texto II

Ao mesmo assunto e na mesma ocasião.

por Gregório de Matos

Corrente, que do peito desatada
Sois por dois belos olhos despedida,
E por carmim correndo desmedida
Deixais o ser, levais a cor mudada.
Não sei, quando caís precipitada
As flores, que regais, tão parecida,
Se sois neves por rosa derretida,
Ou se a rosa por neve desfolhada.
Essa enchente gentil de prata fina,
Que de rubi por conchas se dilata,
Faz troca tão diversa, e peregrina,
Que no objeto, que mostra, e que retrata,
Mesclando a cor purpúrea, e cristalina,
Não sei, quando é rubi, ou quando é prata.

http://pt.wikisource.org/wiki/Corrente,_que_do_peito_desatada (Acesso em 21 de maio de 2010.)

O Texto I, da autoria do Pe. Antônio Vieira, é considerado predominantemente conceptista. O Texto II, do poeta Gregório de Matos, é considerado predominantemente cultista. Justifique estas classificações com elementos dos textos.


QUESTÃO 31 (Descritor: Analisar um texto reconhecendo os processos utilizados pelo autor em sua produção.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Barroco – cultismo e conceptismo.

O Barroco apresenta dois procedimentos estilísticos fundamentais: o cultismo e o conceptismo. Embora o cultismo (jogo de palavras, imagens) predomine no poema e o conceptismo (jogo de raciocínios, ideias) na prosa, não são raros os textos em que há uma confluência de ambos os procedimentos.

Analise o poema a seguir.

Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.

DEMONSTRE, com exemplos do texto, como o cultismo e o conceptismo foram empregados em sua elaboração.


QUESTÃO 32 (Descritor: Reconhecer, no Sermão da Sexagésima, sua principal característica: a metalinguagem.)

Nível de dificuldade: médio.

Assunto: Sermões de Vieira, Sermão da Sexagésima.

Leia um fragmento do Sermão da Sexagésima, do Pe. Antônio Vieira.

“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?”

http://www.paratexto.com.br/document.php?id=597 (Acesso em 19 de maio de 2010)

JUSTIFIQUE a seguinte afirmação: o Sermão da Sexagésima é uma obra metalinguística.


QUESTÃO 33 (Descritor: Comparar aspectos da vertente lírica do poeta Gregório de Matos, buscando estabelecer suas diferenças.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Gregório de Matos: poesia lírica.

Em sua vertente lírica, o poeta Gregório de Matos (1636-1695) escrevia poemas bastante diversos. Aqueles que eram similares ao texto I, endereçavam-se às mulheres brancas. Os semelhantes ao texto II, eram para as negras e mulatas. Leia-os com atenção, buscando as diferenças.

Texto I

PONDERA AGORA COM MAIS ATENÇÃO A FORMOSURA DE D. ANGELA.

Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.

Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.

Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/picaros.html#6 (Acesso em 19 de maio de 2010)

Texto II

Minha rica Mulatinha
desvelo, e cuidado meu,
eu já fora todo teu,
e tu foras toda minha:
juro-te, minha vidinha,
se acaso minha qués ser,
que todo me hei de acender
em ser teu amante fino
pois por ti já perco o tino,
e ando para morrer.

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/Mariquita.html#-1 (Acesso em 19 de maio de 2010)

APONTE as diferenças no que diz respeito ao conteúdo e à forma.


QUESTÃO 34 (Descritor: Interpretar o poema e reconhecer o aspecto crítico destacado em cada estrofe.)

Nível de dificuldade: média.

Assunto: Gregório de Matos – poesia satírica.

A veia satírica de Gregório de Matos rendeu-lhe o apelido de Boca do Inferno. Seus poemas não poupavam ninguém: nem as autoridades, nem o clero, nem os poderosos. Leia o soneto a seguir.

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,
Quer nos governar cabana e vinha, *
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para a levar à Praça e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.*
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

http://educaterra.terra.com.br/literatura/barroco/barroco_17.htm (Acesso em 19 de maio de 2010.)

Neste soneto, o autor critica os setores político, social e econômico da sociedade. Analise o poema e DETERMINE em que estrofe se localiza cada critica.

QUESTÃO 35 (PISM I - Triênio 2007-2009) (Descritor: Interpretar texto do século XVIII e transportá-lo para a situação política atual.)

Nível de dificuldade: difícil.

Assunto: Cartas Chilenas, Tomás Antônio Gonzaga.

Leia o texto a seguir, selecionado das Cartas Chilenas.

“Chegou à nossa Chile a doce nova

de que real infante recebera

bem digna do leito, casta esposa.

Reveste-se o paxá de um gênio alegre

E, para bem furtar os seus desejos,

Quer que, a despesas do Senado e do povo,

Arda em grandes festins a terra toda.”

GONZAGA, T. A. Cartas Chilenas. p. 829. Pág. 4

No texto das Cartas Chilenas, há críticas severas e bem atuais à forma de organização política do Brasil, na qual não se estabelecem limites entre o público e o privado. EXPLIQUE como o fragmento da Carta V, citado acima, deixa clara essa crítica.

QUESTÃO 36 (Descritor: Interpretar os poemas e perceber a qual vertente temática cada um deles pertence dentro da obra do autor.)

Nível de dificuldade: média.

Assunto: Bocage: sonetos e temas.

Manuel Maria Barbosa Du BOCAGE: o maior expoente da poesia árcade portuguesa, é considerado um dos três maiores sonetistas de Portugal, ao Lado de Camões e do poeta realista Antero de Quental.

Em sua obra, trabalhou três vertentes temáticas. Leia os três poemas a seguir.

Texto I

Olha, Marília, as flautas dos pastores

Que bem que soam, como estão cadentes!

Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes

Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores

Incitam nossos ósculos ardentes!

Ei-las de planta em planta as inocentes,

As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,

Ora nas folhas a abelhinha pára,

Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!

Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não

Mais tristeza que a morte me causara.

http://galaaz67.vilabol.uol.com.br/Hist_Arte.pdf (Acesso em 21 de maio de 2010)

Texto II

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua orgia dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=339#ixzz0ocBBBBVQ (Acesso em 21 de maio de 2010)

Texto III

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura;

Bebendo em níveas mãos, por taça escura,

De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só momento,

E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades,

Num dia em que se achou mais pachorrento

http://cre.escacilhastejo.org/exposicoes_realizadas/bocage/poemas.pdf (Acesso em 21 de maio de 2010.)

Qual é a vertente poética do autor a que pertence cada um dos poemas? COMPROVE sua resposta com trechos dos textos.


QUESTÃO 37 (Descritor: Interpretar os textos e perceber o aspecto solicitado em cada um deles.)

Nível de dificuldade: médio.

Assunto: Marília de Dirceu – partes I e II, Tomás Antônio Gonzaga.

A considerada pela crítica obra maior do poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) são As Liras de Marília de Dirceu, ou, simplesmente, Marília de Dirceu. É uma obra composta por duas partes. Leia alguns fragmentos.

PARTE I

Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d' expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

PARTE II

“Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,

Fui honrado Pastor da tua aldeia;

Vestia finas lãs, e tinha sempre

A minha choça do preciso cheia.

Tiraram-me o casal, e o manso gado,

Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.

Para ter que te dar, é que eu queria

De mor rebanho ainda ser o dono;

Prezava o teu semblante, os teus cabelos

Ainda muito mais que um grande Trono.

Agora que te oferte já não vejo

Além de um puro amor, de um são desejo.

Se o rio levantado me causava,

Levando a sementeira, prejuízo,

Eu alegre ficava apenas via

Na tua breve boca um ar de riso.

Tudo agora perdi; nem tenho o gosto

De ver-te aos menos compassivo o rosto.

Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,

Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;

Por essas brancas mãos, por essas faces

Te juro renascer um homem novo;

Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,

Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.”

http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/ArcadisPreromant/Tomas_Antonio_Gonzaga.htm

(Acesso em 22 de maio de 2010.)

O sentimento de cada uma das partes é bastante diferente. REDIJA um parágrafo demonstrando esses sentimentos. JUSTIFIQUE sua resposta com trechos dos textos.

QUESTÃO 38 (Descritor: Comparar textos de épocas diferentes, com aspectos formais)

Nível de dificuldade: média.

Assunto: Arcadismo épico.

O Arcadismo recebe o nome de Neoclassicismo por ter bebido nas fontes da Antiguidade Clássica e no próprio Classicismo para produzir seus textos.

Sendo assim, o maior modelo para nossos autores épicos brasileiros foi a epopeia Os Lusíadas, do poeta português Luís Vaz de Camões. Pensando no poema lusitano, leia os fragmentos a seguir.

TEXTO I – Canto IV, de O Uraguai, escrito por Basílio da Gama.

“Cansada de viver, tinha escolhido

Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,

Na branda relva e nas mimosas flores,

Tinha a face na mão, e a mão no tronco

De um fúnebre cipreste, que espalhava

Melancólica sombra. Mais de perto

Descobrem que se enrola no seu corpo

Verde serpente, e lhe passeia, e cinge

Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.

Fogem de a ver assim, sobressaltados,

E param cheios de temor ao longe;

E nem se atrevem a chamá-la, e temem

Que desperte assustada, e irrite o monstro,

E fuja, e apresse no fugir a morte.

Porém o destro Caitutu, que treme

Do perigo da irmã, sem mais demora

Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes

Soltar o tiro, e vacilou três vezes

Entre a ira e o temor. Enfim sacode

O arco e faz voar a aguda seta,

Que toca o peito de Lindóia, e fere

A serpente na testa, e a boca e os dentes

Deixou cravados no vizinho tronco.”

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000094.pdf (Acesso em 22 de maio de 2010.)

TEXTO II – Canto IV, de Caramuru, escrito pelo Frei Santa Rita Durão.

“Tão dura ingratidão menos sentira,

E esse fado cruel doce me fora,

Se a meu despeito triunfar não vira

Essa indigna, essa infame, essa traidora:

Por serva, por escrava te seguira,

Se não temera de chamar Senhora

A vil Paraguaçu, que sem que o creia,

Sobre ser-me inferior, é néscia, e feia.

XLI

Enfim, tens coração de ver-me aflita,

Flutuar moribunda entre estas ondas;

Nem o passado amor teu peito incita

A um ai somente, com que aos meus respondas:

Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,

(Disse, vendo-o fugir) ah não te escondas;

Dispara sobre mim teu cruel raio...

E indo a dizer o mais, cai num desmaio.

XLII

Perde o lume dos olhos, pasma, e treme,

Pálida a cor, o aspecto moribundo,

Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as falsas escumas desce ao fundo:

Mas na onda do mar, que irado freme,

Tornando a aparecer desde o profundo;

Ah Diogo cruel! disse com mágoa,

E sem mais vista ser, sorveu-se n’água.”

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000099.pdf (Acesso em 22 de maio de 2010.)

Os mais importantes poemas épicos produzidos no Brasil árcade foram O Uraguai, de Basílio da Gama (1741-1795) e Caramuru, de Frei Santa Rita Durão (1722-1784), de cujos fragmentos você leu.

Com relação à forma, você deve ter percebido que são bastante diferentes.

Pensando no aspecto formal, CLASSIFIQUE os fragmentos observando se estes seguem ou não o modelo camoniano.

QUESTÃO 39 (Descritor: Inferir a ideologia presente no texto literário lido.)

Nível de dificuldade: fácil.

Assunto: Caramuru, de Frei Santa Rita Durão.

Frei Santa Rita Durão (1722-1784) escreveu um dos principais poemas épicos brasileiros, Caramuru. O texto tem como tema central a vinda de Diogo Álvares Correia para o Brasil. Um dos episódios trata do casamento do português, que escolhe a Índia Paraguaçu como esposa. Leia.

“LXXVIII

Paraguaçu gentil (tal nome teve)

Bem diversa de Gente tão nojosa;

De cor tão alva, como a branca neve;

E donde não é neve, era de rosa:

O nariz natural, boca mui breve,

Olhos de bela luz, testa espaçosa:

De algodão tudo o mais, com manto espesso,

(...)

LXXXIX

E esta fé (lhe diz) Esposa em Deus querida,

Guardar-te hoje prometo em laço eterno,

Até banhar-te n’água prometida,

Por cândida afeição de amor fraterno:

Amor, que sobreviva à própria vida;

Amor, que preso em laço sempiterno,

Arda depois da morte em maior chama;

Que assim trata de amor, quem por Deus ama.

XC

Esposo (a bela diz) teu nome ignoro;

Mas não teu coração, que no meu peito

Desde o momento, em que te vi, que o adoro:

Não sei se era amor já, se era respeito:

Mas sei do que então vi, do que hoje exploro,

Que de dois corações um só foi feito.

Quero o Batismo teu, quero a tua Igreja,

Meu Povo seja o teu, teu Deus meu seja.”

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000099.pdf (Acesso em 22 de maio de 2010.)

Tanto na caracterização de Paraguaçu tanto no que se diz na segunda e na terceira estrofes do recorte, fica explícita certa ideologia que não condiz com os princípios iluministas predominantes no momento. Que ideologia é esta? Justifique sua resposta com fragmentos do texto.


QUESTÃO 40 (Descritor: Perceber na imagem – escultura – características do estilo artístico estudado.)

Nível de dificuldade: fácil.

Assunto: Esculturas de Aleijadinho – Barroco anacrônico.

 

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Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, foi o maior escultor barroco brasileiro. DESTAQUE pelo menos duas características do Barroco presentes nas imagens acima.

GABARITO DAS QUESTÕES DISCURSIVAS

QUESTÃO 25

O Classicismo recupera da Antiguidade o conceito de mimese, imitação. Assim sendo, se considerássemos “Monte Castelo” nesse olhar, os fragmentos utilizados são similares aos originais; portanto, ocorre mimese. Com relação a plágio (roubo intelectual), esta era uma ideia que não existia no período clássico, exatamente pela retomada da mimese. Na modernidade, por sua vez, o que a canção nos mostra é um jogo intertextual entre o poema camoniano e o fragmento bíblico, literalmente tecido (transformado em texto) pelo compositor. Sendo assim, não há plágio.

QUESTÃO 26

Espera-se que o aluno perceba que Camões anteviu as distorções presentes no cotidiano, ao que ele chamou de “desconcerto do mundo”, e que as pessoas atualmente chamam de “Lei de Murphy”. Tanto o texto I quanto as máximas do texto II são exemplos dessas mesmas situações.

QUESTÃO 27

Espera-se que um poema épico, por sua própria definição (contar a história de um povo e construir um herói), apresente sempre aspectos positivos em relação ao povo retratado. No caso do episódio do Velho do Restelo, este critica a ambição desmedida dos navegantes portugueses, rechaça o próprio ato da viagem, ou seja, nega aquilo de mais importante que move esta epopeia. É uma fala estranha por ser dissonante em relação ao texto como um todo, o que é enfatizado em relação ao momento em que esta se dá, que é no porto, no início da viagem.

QUESTÃO 28

Ambos os textos refletem sobre as perdas e dificuldades enfrentadas perante as conquistas ambicionadas. O texto de Fernando Pessoa, porém, termina de forma otimista com a bela imagem do mar espelho do céu, além de afirmar que tudo vale a pena para grandes homens.

QUESTÃO 29

Espera-se que o aluno perceba que a canção “Índios” apresenta o choque de culturas característico do descobrimento, com um eu lírico arrependido de ter se entregado ao branco, pesaroso por ter se mostrado inocente perante a sedução do europeu. É possível inferir, inclusive, uma crucificação do indígena, a ideia do sacrifício, o martírio pelo qual o índio efetivamente passou (e, por vezes, ainda passa) ao longo de todo o processo colonial.

QUESTÃO 30

O conceptismo de Vieira é claro no texto. Tal técnica, que consistia em jogos de raciocínios, pode ser percebida quando o padre procura convencer o ouvinte da fineza do amor de Cristo em comparação a outras formas de amor, e o faz exemplificando o amor do Senhor por Judas, aquele que o traiu. O raciocínio é espiralado, mas objetivo.

Em Gregório, o cultismo se faz na construção de imagens que as antíteses presentes no texto apresentam ao leitor (a rosa derrete a neve ou a neve desfolha a rosa / o vermelho e o branco / o rubi e a prata). Talvez, numa leitura mais erotizada, o próprio pudor e a sedução.

QUESTÃO 31

Na primeira estrofe, há um jogo de palavras entre todo e parte, bem característico do cultismo. Visualizamos algo que se faz e desfaz, como um quebra-cabeças. A partir da segunda estrofe, porém, o eu lírico começa a discutir o problema (conceptismo) do conceito do sagrado, mostrando que se Deus está em todas as partes (Deus “todo”), ele também está na parte quebrada da imagem de Jesus (o braço da imagem é representação deste todo) e deve ser respeitado.

QUESTÃO 32

A metalinguagem consiste num uso que se faz da linguagem para explicar a si mesma, seu emprego, seus recursos. O Sermão da Sexagésima é metalinguístico por se tratar de uma pregação que versa sobre a arte de pregar. Vieira está questionando, de forma conceptista, por que o trabalho dos jesuítas tem resultado, na época, em poucas conversões.

QUESTÃO 33

Para as mulheres brancas, Gregório de Matos escrevia sonetos (considerados uma forma maior de texto), com linguagem elevada e elogios. Era sua lírica-amorosa. Para as negras e as mulatas, ele usava o popular redondilha maior, medieval, muitas vezes sendo grosseiro, com termos chulos. Trata-se de sua poesia erótica.

QUESTÃO 34

A primeira estrofe traz uma crítica política (“A cada canto um grande conselheiro”). A segunda, uma social (“Em cada porta um frequente olheiro”). Já a terceira repete a questão social (ou até econômica, pensando o valor de propriedade do escravo: “Muitos mulatos desavergonhados”). Por fim, a quarta estrofe explora o aspecto econômico (“Estupendas usuras nos mercados”).

QUESTÃO 35

Para a questão proposta, espera-se do aluno abordar os seguintes pontos:

a) contextualizar o fragmento, a saber, a notícia de casamento do infante português e a decisão do governador de Vila Rica de, desacatando a ordem do rei, comemorar o evento com grande pompa, utilizando, para tal, verbas públicas;

b) relacionar esse episódio com a atual situação política do país, evidenciando a existência de uma cultura política marcada pela corrupção (desvio de verbas públicas para fins privados).

Obs.: A resposta deveria levar em conta o tom crítico da obra e, sobretudo, fundamentar-se em elementos do trecho selecionado.

QUESTÃO 36

O primeiro poema pertence à vertente árcade do autor, o que pode ser provado pelo cenário bucólico e pastoril no qual o texto se constrói, além da mitologia. O segundo é pré-romântico, no qual Bocage antecipa a morbidez da segunda geração do Romantismo brasileiro, com a evasão pela morte. O terceiro, por fim, é satírico, texto no qual o autor traça um autorretrato bem humorado de si mesmo.

QUESTÃO 37

Na primeira parte das Liras, Tomás Antônio Gonzaga estava livre, a Inconfidência ainda não acontecera. Assim sendo, tudo eram alegrias, o texto é explicitamente árcade, transbordante de bucolismo (“É bom, minha Marília, é bom ser dono / De um rebanho, que cubra monte, e prado; / Porém, gentil Pastora, o teu agrado / Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.”).

Na segunda parte, porém, o autor já havia sido preso e estava à espera de sua sentença. A tristeza, portanto, era enorme. Sendo assim, o eu lírico ressalta suas perdas e seu afastamento de Marília (“Tudo agora perdi; nem tenho o gosto / De ver-te ao menos compassivo o rosto.”).

QUESTÃO 38

Enquanto Santa Rita Durão segue o modelo camoniano (10 cantos, decassílabos heroicos, estrofes em oitava rima), Basílio da Gama inova, trabalhando com 5 cantos, estrofação livre e versos decassílabos brancos.

QUESTÃO 39

A ideologia aí predominante é a ideologia cristã. O amor declarado entre as personagens é um amor divino, fala-se em Batismo, há um recato em Paraguaçu que, além de estar toda coberta, segue o padrão de beleza europeu (sua pele é branca). Por fim, vale lembrar que o autor da obra, Frei Santa Rita Durão, pertencia à Igreja, o que também justifica tais ideais.

QUESTÃO 40

O detalhamento é a grande marca de Aleijadinho: os cabelos das figuras, as dobras dos tecidos, o olhar intenso de Cristo e do anjo, a delicadeza dos dedos do anjo, os dedos, todos esses elementos são exemplos importantes das minúcias do artista. Além disso, há uma tensão emocional nas imagens, algo como dor e êxtase, que representam o fusionismo barroco.

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