Muitas são as pessoas que têm medo de escrever porque julgam que não sabem a grafia das palavras. Isso é verdade. A pedra no sapato para muitas pessoas é mesmo saber como se usa determinadas letras. Confusões... É com X ou CH? É com S ou Z? O artigo de hoje traz luz à questão e poderemos assim evitar alguns erros que podem estragar um texto.

Ortografia (orto = correto; grafia = escrita)

É a parte da gramática que trata da escrita correta das palavras. E, com certeza, não é uma das partes mais fáceis de nossa Língua Portuguesa. Para começar, deve-se saber que o nosso alfabeto oficial é formado por cinco vogais e dezoito consoantes. Estão descartadas, portanto, as letras K, W e Y, isso antes do Novo Acordo Ortográfico, é claro)
Um dos obstáculos na aprendizagem é a interferência do excesso de estrangeirismo. Brasileiro adora modismos e isso não é segredo para ninguém. Colocar nome em filhos, como Kelly, Sheila e Washington, é uma prática constante. Mas, por outro lado, é difícil de se imaginar esses nomes adaptados à nossa ortografia oficial, como Quéli, Uóxinton e Cheila, não é mesmo? Para os substantivos próprios realmente o território é livre para criações. E quanto ao restante, aos comuns?
O que muitos não sabem é que há várias adaptações já consagradas (outras ainda não consagradas, mas existentes) e palavras que passaram por uma reforma em 1943 e por outra há pouco.
Acredito que a dificuldade maior em aprender ortografia é a influência do cotidiano, carregado de erros. Você vai ao mercado, pega um ônibus, vai ao banco, lê placas de ruas, vai a um restaurante e está tudo errado! O que você será capaz de memorizar? O errado, que passa 24 horas pela sua frente, ou ver o que é certo estudando algumas horas por dia para uma prova?
O maior incômodo para o estudante de ortografia é que há regras e regras, mas logo após ele
descobre que há uma série de exceções. Então como obter um estudo eficiente? Eu sugiro que você comece a ter o hábito da leitura em sua vida. Durante a leitura de um texto responsavelmente bem escrito aparecerão palavras com X, SC, Z, J, G, Ç, etc. Pegue-as e procure os seus significados no dicionário; volte ao texto e releia o trecho com o significado achado; escreva a palavra umas cinco vezes num caderno reservado para esta finalidade. Faça isto, pelo menos umas três vezes por semana. É uma conhecida técnica de memorização por repetição.
Outra maneira é verificar como é o substantivo primitivo da palavra a ser escrita, assim os seus substantivos derivados terão a mesma letra: rijo (enrijecer), gorja (gorjear, gorjeta), cheio
(enchente), etc. Mas também é muito perigoso fazer disto uma regra fixa. Veja: anjo (angelical), catequese (catequizar), batismo (batizar), etc. Por esta você não esperava, heim?!?!
Como eu já disse, há regras sim, mas há um caminhão de exceções. Seguem mais alguns exemplos.
Distinção Entre J e G
1. Escrevem-se com J:
a) As palavras de origem árabe, africana ou indígena: canjica, canjerê, pajé, Moji, jirau, jerimum etc. Exceção: Sergipe.
b) As formas dos verbos que têm o infinitivo em -JAR: despejar: despejei, despeje; arranjar: arranjei, arranje; viajar: eu viajei, que eles viajem, etc.
Outras palavras grafadas com J (as ditas exceções): alfanje, alforje, berinjela, cafajeste, cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, jerico, Jerônimo, jérsei, jiu-jitsu, majestade, majestoso, manjedoura, manjericão, ojeriza, pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje, ultraje, varejista.
2. Escrevem-se com G:
a) O final dos substantivos -GEM: a coragem, a viagem, a vertigem, a ferrugem, etc. Exceções: pajem, lambujem, lajem.
b) Os finais: -ÁGIO, -ÉGIO, -ÍGIO, -ÓGIO e ÚGIO: estágio, privilégio, prodígio, relógio, refúgio, etc.
c) Os verbos em -GER e -GIR: fugir, mugir, fingir.
Distinção Entre S e Z
1. Escrevem-se com S:
a) O sufixo: -OSO: cremoso (creme + oso), leitoso, vaidoso, etc.
b) O sufixo -ÊS e as formas femininas terminadas em -ESA ou -ISA, em palavras que indiquem origem, profissão ou título honorífico: português - portuguesa; camponês - camponesa; marquês -marquesa; burguês - burguesa; sacerdote - sacerdotisa, montês, pedrês, princesa, etc.
c) Os finais -ASE, -ESE, -ISE e E -OSE, na grande maioria se o vocábulo for erudito ou de aplicação científica, não haverá dúvida: hipótese, exegese, análise, trombose, etc.
d) As palavras nas quais o S aparece depois de ditongos: coisa, Neusa, causa, maisena, etc.
e) O sufixo -ISAR dos verbos referentes a substantivos cujo radical termina em S: pesquisar (pesquisa), analisar (análise), avisar (aviso), etc.
f) Quando for possível a correlação ND - NS: escaNDir - escaNSão; preteNDer - preteNSão; repreeNDer - repreeNSão, etc.
Grafam-se com S: alisamento, análise, ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, descansar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, hortênsia, lasanha, pesquisa, pretensão, pretensioso, propensão, remorso, sebo, siso, tenso, utensílio, etc.
2. Escrevem-se em Z:
a) O sufixo -IZAR, de origem grega, nos verbos e nas palavras que têm o mesmo radical: civilizar, civilização, civilizado; organizar, organização, organizado; realizar, realização, realizado, etc.
b) Os sufixos -EZ e -EZA formadores de substantivos abstratos derivados de adjetivos: limpidez (limpo), pobreza (pobre), rigidez (rijo), etc.
c) Os derivados em -ZAL, -ZEIRO, -ZINHO e -ZITO: cafezal, cinzeiro, chapeuzinho, cãozito, etc. Grafam-se com Z: azar, azeite, azáfama, azedo, amizade, aprazível, baliza, buzina, bazar, chafariz, cicatriz, ojeriza, prazer, prezado, proeza, vazar, vazamento, vazão, vizinho, xadrez.
Distinção Entre X e CH
1. Escrevem-se com X:
a) Os vocábulos em que o X é o precedido de ditongo: faixa, caixote, feixe, etc. Exceção: caucho.
b) Palavras iniciadas por ME: mexerico, mexer, mexerica, México, mexilhão, etc. Exceção: mecha (de cabelo).
c) Palavras iniciadas po EN: enxada, enxame, enxotar, etc. Exceção: enchovas. Não serão consideradas exceções as palavras que tiverem CH na sua origem: cheio - encher, enchente; chumaço - enchumaçado; etc.
Grafam-se com X: exceção, exceder, excelente, excelso, excêntrico, excessivo, excitar, inexcedível, expectativa, experiente, expiar (remir, pagar), expirar (morrer), expoente, êxtase, extasiado, extrair, fênix, têxtil, texto, bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, mexer, mexerico, puxar, rixa, oxalá, praxe, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara, xale, xingar, xampu.
2. Grafam-se com CH: bucha, charco, charque, charrua, chávena, chimarrão, chuchu, cochilo, cochilar, tachada, ficha, flecha, mecha, mochila, pechincha, salsicha, recauchutagem, etc.
Distinção Entre S, SS, Ç e C
Observe o quadro das correlações:
Grafam-se com C ou Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura, cimento, dança, contorção, endereço, Iguaçu, maçarico, maçaroca, maço, maciço, miçanga, muçulmano, muçurana, paçoca, pança, pinça, Suíça, vicissitude, muçarela, fogaça, Turiaçu, etc.
Grafam-se com SS: acesso, acessível, acessório, assar, asseio, assinar, carrossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso, essencial, expressão, fracasso, impressão, massa, massagista, missão, necessário, obsessão, opressão, pêssego, procissão, profissão, profissional, ressurreição, sessenta, sossegar, submissão, sucessivo, etc.
Grafam-se com SC ou SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência, consciente, crescer, cresço, cresça, descer, desça, disciplina, discípulo, discernir, fascinar, fascinante, florescer, imprescindível, néscio, oscilar, piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível, suscetibilidade, suscitar, víscera, etc,
Grafam-se com E: arrepiar, cadeado, cadeeiro, cemitério, confete, creolina, cumeeira, desperdiçar, desperdício, destilar, disenteria, empecilho, encarnar, encarnação, indígena, irrequieto, lacrimogêneo, mexerico, mimeógrafo, orquídea, quase, quepe, senão, sequer, seriema, seringa, umedecer, etc.
Grafam-se com I: aborígine, açoriano, artifício, artimanha, camoniano, Cabriúva, Casimiro, Ifigênia, chefiar, cimento, crânio, criar, criador, criação, crioulo, digladiar, displicência, displicente, erisipela, escárnio, feminino, frontispício, inclinar, inclinação, incinerar, inigualável, invólucro, lajiano, lampião, pátio, penicilina, privilégio, requisito, silvícola, etc.
Grafam-se com O: abolir, banto, boate, bolacha, boletim, botequim, bússola, chover, cobiça, cobiçar, concorrência, costume, engolir, goela, mágoa, magoar, mocambo, moela, moleque, mosquito, névoa, nódoa, óbolo, ocorrência, rebotalho, Romênia, romeno, tribo, etc.
Grafam-se com U: bulício, buliçoso, bulir, burburinho, camundongo, chuviscar, chuvisco, cumbuca, cúpula, curtume, Cutia, cutucar, entupir, Juá, língua, jabuti, jabuticaba, lóbulo, Manuel, mutuca, rebuliço, tábua, Tabuão da Serra, tabuada, trégua, urtiga, etc.
Conforme eu mencionei anteriormente, já existem alguns aportuguesamentos de palavras estrangeiras. Infelizmente algumas delas ainda sofrem certa resistência por parte de pessoas que insistem em continuar falando e escrevendo errado. Para mostrar e provar ao leitor que nada do que virá é invenção minha, terei como fonte de referência o que o gramático e professor pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Antonio Sacconi, retrata em seu livro Não Erre Mais (13a. edição, páginas 41 e 256), citando algumas: muçarela, bêicon, rímel, xortes, picape, estresse, Paiçandu, uísque, futebol, pufe, turfe, surfe, tíquete, ringue, estêncil, frízer, robife, laicra, iate, nocaute, Piraçununga, Piaçagüera, Pirajuçara, Susano, xampu, Guaianases, entre tantas outras.
Daí eu pergunto ao meu caro estudante: o que cai em uma prova? A ortografia oficial, aquela que está nos livros de gramática, ou a oficiosa, a que está na boca do povo e muitas vezes veiculada pela mídia? É ou não é para ser muito cauteloso na hora de sua prova.
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