Em seu livro O Enredo (Editora Ática), a professora Samira Nahid de Mesquita nos adverte:
"Constituir um enredo é começar um jogo. O narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que se pode chamar uma comunidade lúdica.” Percebeu isso? Tecer um enredo é como se fosse começar um jogo do qual o narrador participa como se fosse um jogador. Mais adiante, no mesmo livro, você encontrará: "Contar, narrar passam a ser formas de ordenar a desordem, de dominar o desconhecido, de compensar o caos. Uma frase de um ensaísta contemporâneo, Roland Barthes, sintetiza bem essa ideia: "O mundo deixa de ser inexplicável quando se narra o mundo. "Ao organizarem-se frases, organizam-se sentidos, articula-se uma ordem, cria-se um mundo logicamente estruturado."
Para começar a tecer seu jogo, é preciso usar a imaginação. Pegue um papel e escreva o que vai auxiliá-lo a construir a sua história:
1. Quem são essas personagens?
2. Você dará nome a eles ou vai preferirá metaforizá-los, negando-lhes uma identidade, ao mesmo tempo em que, por isso mesmo, eles passem a simbolizar todos os homens e mulheres na mesma situação?
3. Qual a história que viveram? Você pode observar que ela é forte, intensa, de extrema ligação de afeto entre dois seres. Então, qual a circunstância que os separou?
4. Deixe sua imaginação correr solta: que história é essa que poderia ter sido e que não foi?
5. O que teria impedido que os dois continuassem juntos e fossem felizes?
6. Qual o espaço que ocupam no momento em que nos são mostrados? Descreva-os, mas não os detalhe a ponto de perder parágrafos inteiros com eles.
7. Qual o tempo que você focalizará? Voltar o tempo a um início que você não conhece, mas presume, pode ser um bom começo.
8. Por que ambos estão sozinhos?
9. Associe a chuva de que ele fala à chuva do espaço que a mulher habita.
10. Observe: quando a mulher dobra o papel e tenta reconstituir a história que viveu, você poderia, como narrador em terceira onisciente, tomar uma carona nessas lembranças.
E agora, imagine como começar.
Você pode ter em mente uma história mais ou menos simples com relação à cronologia e tecê-la diacronicamente: começo, meio e fim. Mas pode também preferir começar pelo clímax, o ponto mais alto da narrativa e depois, em flash-back ou digressão, oferecer toda a história.
Cuide da linguagem, da coerência entre as partes, isso também é muito importante.
Não há nenhuma restrição quanto ao tamanho de uma narrativa no vestibular, mas é claro que você deverá preferir não se estender muito, como num conto, a fim de que seu texto não se perca em um emaranhado de situações que, posteriormente, tornem-se incontroláveis.
Nenhum comentário :
Postar um comentário