Redação sobre a dificuldade de escrever


Esta é uma proposta de redação com a qual trabalhei com meus alunos de Ensino Médio. Discutimos sobre a dificuldade que alguns têm de escrever na hora dos simulados que fazemos e, a partir daí veio a ideia de fazermos algo coletivamente. Antes, no entanto, conversamos sobre os textos abaixo.

Proposta de redação de texto metalinguístico

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Vamos usar a escrita para falar da própria escrita, as palavras para falar das próprias palavras, os poemas para falar dos próprios poemas...

Muito se tem escrito sobre o ato de escrever, e o assunto não foi, nem será, esgotado, pois cada redator tem um contato único com o universo da metalinguagem.

É preciso ter praticado o ato de escrever pelo menos uma vez, para falar dessa experiência. Às vezes, o papel em branco assusta, a língua nos trai, as palavras escapam. Em outras, ao contrário, as palavras fisgam o que está oculto em nós ou nas entrelinhas, revelando-nos aos nossos próprios olhos.

Esta atividade pretende levá-lo(a) ao universo da escrita, convidá-lo(a) a falar de suas experiências com esse mundo complexo, enigmático, fascinante, mágico. Mas, antes, vamos saborear algumas experiências.

Para Clarice Lispector, o ato de escrever é revelador - descortina o mundo e o próprio eu. Desnuda as coisas e os seres:

“Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia.”

A poetisa Marisa Sodero Cardoso busca nas palavras um contato quase físico - quer delas a forma, o som, o calor:

Amo as palavras
como amo os corpos
Amo despi-las
como os corpos
Descobri-las
em cada forma
de sua corporal
geografia
em cada tom
de sua alada
sonoridade
As palavras
ardem
tremulamente
como corpos
descobertos

Já Emília Amaral, poetisa e escritora, além do contato sensorial com as palavras, quer delas a essência com que se estabelecem novos encontros:

Respirar as letras
Tocá-las com os olhos
Acariciar-lhes, na substância, este novelo de novos elos.

Para a poetisa e escritora Adélia Prado:

A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada.

Um aluno de uma amiga participante aqui do grupo escreveu numa atividade que ela compartilhou comigo:

O que dizer da palavra
se ela não tem nada a me dizer
no espaço branco infinito
do papel?
Poesia é o que me resta:
arestas de palavras mudas.

E mesmo após usar tantas palavras, escrever poemas, tentar chegar ao outro, desvendar o escrever, ainda há muito o que dizer, como nos ensina Paulo Leminski:

fazia poesia
e a maioria saía
tal a poesia que fazia
fazia poesia
e a poesia que fazia
não é essa
que nos faz alma vazia
fazia poesia
e a poesia que fazia era outra filosofia
fazia poesia
e a poesia que fazia tinha tamanho família
fazia poesia
e fez alto em nossa folia
fazia tanta poesia
ainda vai ter poesia um dia

Criação de um texto metalinguístico

Crie um texto, em prosa ou em verso, falando da própria escrita, das dificuldades diante de uma folha em branco, do prazer em se descobrir nas palavras, da estranha sensação de se traduzir em palavras.

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