Prova de interpretação para Ensino Fundamental


Há escritores que, para chamar a atenção sobre algum fato ou sobre o comportamento humano, partem para o absurdo, o sobrenatural. Fazem o real , o verdadeiro conviver com o irreal, a fantasia. O resultado é um texto fantástico. Na produção de texto isso pode acontecer, mas é sempre bom atentar para o gênero pedido para que o resultado não seja incoerente com a proposta. Mas aqui não estamos falando de desenhos animados, cuja finalidade maior é a diversão, o lazer, o riso. Agora estamos de textos que nos fazem pensar, que nos fazem refletir sobre o mundo em que vivemos. É o caso deste conto do escritor Ignácio de Loyola Brandão.

Um método de estudo perfeito para o Enem

Atividade de interpretação de texto par Ensino Fundamental

Os homens que se transformavam em barbantes

Havia uma cidade , grande, desenvolvida.As pessoas que moravam lá eram saudáveis , simpáticas e alegres.Não me lembro o nome da cidade, porque eu tinha quinze anos quando passei por lá, levado pelo meu pai.Nessa época , não me preocupava com o nome, mas sim com os lugares propriamente.

Acontece que, certo dia, um habitante desta cidade saiu de casa, pela manhã, dirigindo-se alegremente ao emprego.Fez todas as coisas de praxe. Cumprimentou os vizinhos, o barbeiro da esquina, o vendeiro, os colegas no ponto de ônibus, agradeceu ao motorista, ao ascensorista , sentou-se em sua mesa.

Nesse dia, no fim do expediente, o homem notou que seu pulso esquerdo parecia mais fino. “Bobagem.Impressão .Acho que estou cansado demais”. Foi para casa, jantou, viu telenovela, dormiu.Na manhã seguinte, o pulso tinha se afinado mais.E suas canelas pareciam de criança.Chamou a mulher.Ela ficou tão impressionada, que o homem se arrependeu de ter mostrado.Não havia dor, apenas fraqueza.

Partiu para o emprego.Contente, cumprimentando as pessoas e agradecendo ao motorista e ao ascensorista .No meio da tarde, porém , não conseguiu trabalhar. O pulso estava fino e dobrava-se.Maleável , sem consistência .O homem, envergonhado, puxou a manga da camisa.O mais que pôde, para que os colegas não vissem.

Mas viram.Porque o homem tinha o corpo transformado. A cabeça, única coisa normal, caiu sobre a mesa. O torso não era mais grosso que um lápis, suas pernas e braços, finos como cordéis.Mas ele estava lúcido, coerente, o cérebro não tinha sido perturbado . Além do impacto, e da surpresa ante o estranho, o homem continuava o mesmo.Levado para casa, chamaram o médico.E o médico chamou outro médico.Porque:

_ Não é o primeiro.É o terceiro, nesta semana.

Os jornais noticiaram e as notícias trouxeram à luz novos casos.Pela cidade inteira acontecia aquilo: as pessoas se adelgaçavam, tornavam-se frágeis .Em pouco tempo, outro fato surgiu, ao lado dos homens que se transformavam em barbantes.Eram os que se transformavam em vidro.Tinham que ter muito cidade, ao andar pela rua, ao trabalhar, porque podiam se quebrar com qualquer batida.Vez ou outra, os homens de vidro se desfaziam.Em plena rua, à vista de todos. Como o vidro blindex que se estilhaça por inteiro.

Aquela população alegre, saudável , descontraída, começou a viver apavorada.Sem saber se, a qualquer momento, o vírus (seria um vírus ) podia atacar.Mudando a pessoa em vidro ou barbante. Muitos começaram a se mudar, indo para cidades distantes. A secretaria de saúde analisou o ar, a água, tudo, em busca das causas.Mas o ar era bom , não poluído. E as águas vinham de nascente puras ou de poços artesianos límpidos.Pensou-se que algumas pessoas podiam estar colocando elementos venenosos na comida ou em caixas de água.Investigações nada concluíram.

E até hoje, nada se sabe. A cidade parece estar se habituando com a possibilidade de eventualmente alguém transmutar.Não causa mais surpresa quando um barbante é levado pelo vento ou, em dias de chuva , é tragado pela enxurrada. Ou quando os vidros se liquefazem , no momento em que uma pessoa vira a esquina ou dá um esbarrão noutra.A população se acostumou. Parece que o homem se adapta às piores condições, conformando-se com os acontecimentos.Naquela cidade, tudo é muito frágil, a vida humana tem a espessura de um fio. Ou é delgada como um vidro. Mas isso vai se constituindo na normalidade.

BRANDÃO , Ignácio de Loyola.

1. O texto que você leu é uma narrativa. Vamos conversar sobre alguns de seus elementos.

a) O narrador participa dos acontecimentos?

b) No primeiro parágrafo , a que se refere a expressão : “Nessa época” ?

c) Quando o narrador conta o fato sucedido , ele está na cidade? Justifique sua resposta com palavras do texto.

d) Como nos contos de fadas ,as ações narradas acontecem num tempo indefinido. Que expressão nos mostra isso ?

e) Caracterize o espaço, ou seja, o cenário , o local onde as ações se desenrolam.

f) Quem são as personagens?

g) Os personagens não têm nome, nem idade. Qual a intenção do autor ao fazer isso?

h) Já sabemos que a narrativa apresenta um conflito, ou seja, um acontecimento que provoca mudança de uma situação A para uma situação B. No caso desse texto , qual é o conflito ?

2. Os primeiros parágrafos estão centrados em um habitante que vê seu corpo se transformando em barbante.

a. Que ações ele pratica?

b. Essas ações são praticadas todo dia ou trata-se de um dia especial? Justifique com uma frase do texto.

c. Analisando o cotidiano desse habitante, que tipo de homem ele era?

3. O que o barbante e o vidro têm em comum ?

4. Em dois momentos o narrador reproduz a fala de personagens.

a. Transcreva as duas falas e identifique os personagens.

b. Que recursos gráficos o autor do texto utilizou para indicar as falas dos personagens?

5. Os textos exploram a verossimilhança ou a inverossimilhança ?

6. Releia o último parágrafo e responda:

a. Que expressão marca a passagem do tempo?

b. Qual a reação das pessoas em relação aos habitantes que sofrem transformações ?

c. Os textos fantásticos levam certas situações ao absurdo para fazer uma crítica mais nítida, mais evidente sobre algo. O que está sendo criticado nesse texto? Justifique sua resposta transcrevendo palavras ou frases do texto.

d. Ignácio de Loyola Brandão afirma em seu texto que a vida humana é muito frágil. Você concorda com essa afirmação? Discorda? Escreva um texto colocando seu ponto de vista. É importante você argumentar, exemplificar para convencer o leitor.

7. Continue os textos seguintes , completando as transformações dos personagens.

a. Naquela cidade, os homens foram perdendo os sentimentos e transformaram-se em ...

b. Era um homem que aceitava tudo, sofria humilhações e calava, nada desejava , não lutava por nada. Não conseguia mais ficar com a coluna reta. O tempo foi passando e ele começou a perceber os primeiros sintomas: suas pernas...

c. Os prédios , as casas,as árvores das praças públicas, os ônibus... tudo tremia assustadoramente, um vapor denso encobria a cidade. Os habitantes olhavam atônitos , tomados por pânico e curiosidade. Após alguns minutos, a névoa foi se dissipando e todos puderam perceber: os convertido prédios, as árvores, os postes, os ônibus , tudo que não era humano assumia uma nova forma. Os edifícios mais altos se transformando em ...

d. Quando , certa manhã , Gregório despertou , depois de um sonho tranqüilo , achou-se em sua cama convertido em um monstruoso inseto. Achava-se deitado sobre a dura carapaça de suas costas , e, ao erguer um pouco a cabeça, viu o seu ventre escuro e suas inúmeras pernas. Com dificuldade , levantou-se , vestiu o paletó, caprichou no nó da gravata e saiu para o trabalho.

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