Redação dissertativa sobre uso de animais em pesquisas


Este é um exemplo de redação bastante útil para estudar para provas como a do Enem. Aqui você poderá treinar e observar as diferentes maneiras de abordar um assunto bem como as estratégias argumentativas mais eficazes para desenvolver uma boa redação dissertativa.

Exemplo de boa redação dissertativa no vestibular

(sem título)

Tão antiga quanto a relação homem-homem é a relação entre homens e animais. Envolveu, ao longo da história, vários aspectos: desde o antagonismo caça/predador até uma afetividade exagerada em relação aos bichinhos criados em casa. O ponto mais polémico dessa relação, contudo, surgiu recentemente, com o uso de animais em experimentações científicas.
A questão suscita importantes questionamentos sobre a conduta humana em relação às outras formas de vida. É bem verdade que existem fundamentos jurídicos para a proteção dos animais, como o artigo 225 da Constituição, no qual se baseia a Lei de Crimes Ambientais, que criminaliza abusos, maus-tratos e mutilações feitos contra animais, mas é também sabido que, como em tantos outros casos, as normas não são devidamente observadas.
Nesse cenário, vários grupos se organizam a fim de reivindicar os direitos dos animais. Argumentam em favor da igualdade do direito à vida, independentemente da espécie a que o organismo pertença. Sob este ponto de vista, o uso de animais em experimentos científicos é um sacrilégio. Contra ele, esses grupos se mobilizam e conseguiram, inclusive, a aprovação de uma lei que proibia a prática na cidade do Rio de Janeiro. Do outro lado, contudo, estavam os cientistas, que recorreram aos deputados federais para forçar a aprovação da lei que regulamentaria o uso científico de animais. Em toda a polémica, interessa observar que a posição do homem tem sido, sempre, a de hierarquizara vida, colocando a si mesmo no topo e subordinando toda a natureza aos seus interesses. A denúncia dessa postura pelas organizações de proteção animal é bem justa. O que lhes escapa, contudo, é que adotam linha similar: defendem baleias, focas e golfinhos, mas não se preocupam com mexilhões ou planarias, por não se identificarem com eles. Sinal claro de que, nem para os defensores dos animais, todos os seres têm o mesmo valor.
É importante, evidentemente, reconhecer o direito à vida de outros animais e respeitá-los, não lhes infligindo-sofrimento desnecessário. A questão das cobaias, entretanto, exige análise mais profunda. Vetando seu uso, a produção de vacinas seria prejudicada e muitas das pesquisas, a exemplo dos estudos com células-tronco e sobre terapias contra o câncer, seriam paralisadas. É sensato abandonar projetos que abririam tantas perspectivas para a cura e a prevenção de doenças? Nesse impasse, a solução momentânea foi dada pelo Senado, com a aprovação da Lei Arouca. Ela cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, responsável por credenciar instituições para criação e utilização de animais destinados a fins científicos, por estabelecer normas para seu uso e cuidado e por inspecionar a introdução de técnicas alternativas, que dispensem a aplicação das cobaias animais.
A medida é o ponto de equilíbrio entre as duas posições antagónicas. Bastante razoável, restringe o uso de cobaias animais às situações de interesse e necessidade e estimula a adoção de novos mecanismos, sem impô-los de maneira abrupta, o que causaria vários transtornos à atividade científica.
Parece que, dessa forma, resgatou-se a valorização da Baleia, de Graciliano Ramos, sem deixar para trás o menino maior e o menino menor, merecedores, também, de uma vida melhor, que pode ser propiciada pelos avanços da ciência.

(Fonte: Unicamp)

Análise da redação

ORIGINALIDADE: o candidato introduz de forma interessante a complexidade envolvida nas controvérsias sobre o uso de animais em experimentações científicas: aborda primeiramente a questão de um ponto de vista histórico, demonstrando de maneira eficaz que a relação entre o homem e o animal existe desde sempre e pode ser sintetizada emblematicamente, de um lado, pela atitude predatória e, de outro, por um amor excessivo aos animais domésticos. A dissertação trabalha de forma madura a dificuldade de se estabelecer um limite entre o bom uso e o mau uso dos animais pelo homem, levando sempre em consideração que essa é uma decisão histórica e política. Nesse sentido, o texto traz como fecho argumentativo a criação do Concea, que, sem pretensão de resolver definitivamente o problema, se coloca como um razoável fórum de decisão, análise e reflexão dos inúmeros pontos a serem levados em conta na regularização e normatização do uso de animais em experimentação.

CONCLUSÃO: o último parágrafo aponta para um olhar equilibrado e cuidadoso sobre tema tão delicado. Evoca a "Lei Arouca" como regulador "bastante razoável" para os casos mencionados ao longo do texto, fechando, de modo coerente, suas argumentações e seus questionamentos. Antes de arrematar a redação, encontrou ainda uma oportunidade para ilustrá-la a partir da lista de leitura obrigatória e mencionou o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Demonstrou sensibilidade ao associar os meninos sem nome do enredo, donos da cadela chamada Baleia, ao debate "sacrifício de animais/benefício do homem".

Veja abaixo este modelo de redação que pode ser usado na hora de produzir seus textos dissertativos.

modelo-de-redação-dissertação-área-geográfica

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