Exercício com texto de Dom Casmurro


miniatura-A construção do parágrafo dissertativoO fragmento a seguir pertence ao romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Leia um diálogo entre Bento Santiago - na adolescência, Bentinho; na velhice, Dom Casmurro - e seu amigo Escobar, ambos seminaristas sem vocação eclesiástica. Em seguida, responda ao exercício que elaborei. Você poderá, ainda, ter acesso a outros seis exercícios dissertativos com gabarito que elaborei. Para isso, veja as instruções no final do artigo. Boa leitura.

Atividade sobre texto de Machado de Assis

Segredo por segredo

De resto, naquele mesmo tempo senti tal ou qual necessidade de contar a alguém o que se passava entre mim e Capitu. Não referi tudo, mas só uma parte, e foi Escobar que a recebeu. Quando voltei ao seminário, na quarta-feira, achei-o inquieto; disse-me que era sua intenção ir ver-me, se eu me demorasse mais um dia em casa. Perguntava-me com interesse o que é que tivera, e se estava bom de todo.
- Estou.
Ouvia, espetando-me os olhos. Três dias depois disse que me estavam achando muito distraído; era bom disfarçar o mais que pudesse. Ele, à .sua parte, tinha razões para andar distraído também, mas buscava ficar atento.
- Então parece-lhe...?
- Sim, você às vezes está que não ouve nada, olhando para ontem; disfarce, Santiago.
- Tenho motivos...
- Creio; ninguém se distrai à toa.
- Escobar... Hesitei; ele esperou.
- Que é?
- Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também; aqui no seminário você é a pessoa que mais me tem entrado no coração, e lá fora, a não ser a gente da família, não tenho propriamente um amigo.
- Se eu disser a mesma coisa, retorquiu ele sorrindo, perde a graça; parece que estou repetindo. Mas a verdade é que não tenho aqui relações com ninguém, você é o primeiro e creio que já notaram, mas eu não me importo com isso.
Comovido, senti que a voz se me precipitava da garganta.
- Escobar, você é capaz de guardar um segredo?
- Você que pergunta é porque duvida, e nesse caso...
- Desculpe, é um modo de falar. Eu sei que é moço sério, e faço de conta que me confesso a um padre.
- Se precisa de absolvição, está absolvido.
- Escobar, eu não posso ser padre. Estou aqui, os meus acreditam, e esperam; mas eu não posso ser padre.
- Nem eu, Santiago.
- Nem você?
- Segredo por segredo; também eu tenho o propósito de não acabar o curso; meu desejo é o comércio, mas não diga nada, absolutamente nada; tica só entre nós. E não e que eu não seja religioso; sou religioso, mas o comércio é a minha paixão.
- Só isso?
- Que mais há de ser?
Dei duas voltas e sussurrei a primeira palavra da minha confidência, tão escassa e surda, que não a ouvi eu mesmo; sei porém que disse "uma pessoa..." com reticência. Uma pessoa...? Não foi preciso mais para que ele entendesse. Uma pessoa devia ser uma moça.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Scipione, 2004. p. 83-4.

Exercício sobre o texto de Machado de Assis

1. Quantas vozes se fazem ouvir, direta ou indiretamente, no fragmento transcrito?

Há, pelo menos, três vozes distintas.

- O locutor principal, o narrador, o "dono da voz" (Bento Santiago);

- O interlocutor (Escobar);

- Uma voz coletiva, introduzida indiretamente por Escobar ([Escobar] "disse que me estavam achando muito distraído".).

O verbo na terceira pessoa do plural, não antecedido de pronome pessoal, caracteriza sujeito indeterminado.

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2 comentários :

  1. Efetuei o pagamento em 19/08 e não recebi nenhum e-mail de confirmação e orientação para o acesso imediato.

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