Como fazer um texto narrativo


Já publiquei muitas vezes textos em que eram desenvolvidos os elementos da narrativa. Lá no blog Redação Nota 1000 no Enem você tem visto, inclusive, exercícios de interpretação que ajudam demais na hora de escrever seus próprios textos. Quero abordar aqui algumas das características do texto narrativo.

Numa narração, há sempre pessoas, animais etc, envolvidos nos acontecimentos, ou seja, participando deles. São as personagens. No texto de exemplo logo após esta postagem, as personagens são o rapaz, Marineide, o tio, a tia, Dona Amália.

Em todo texto narrativo há, também, um elemento que conta a história — é o narrador. No texto deste artigo, o narrador é uma das personagens, o rapaz, que também participa dos acontecimentos. Ele é, inclusive, a personagem principal. Observe que os verbos e pronomes estão na 1? pessoa do singular: "Não contei pra ninguém (...) mas pra Marineide não pude esconder. Ela era minha namoradinha na escola. Meu tio dizia...".

Nesse caso, a narração é em 1ª pessoa. Observe como os fatos são contados do ponto de vista do narrador. Se fosse o tio quem os contasse, na certa os fatos seriam colocados de forma diferente. Por que o narrador não consegue esconder a promessa de Marineide? Porque a ama. E esse sentimento é mostrado através da ação, da atitude dele.
Não confunda o narrador com o autor do texto. Nesse texto, o narrador é um adolescente, mas o autor é Elias José, um adulto.

Além das personagens e do narrador, há, numa narração, outros elementos importantes:
  • o espaço — é o lugar onde os fatos acontecem;
  • o tempo — é o momento em que o fato acontece;
  • o enredo — é o conjunto de fatos narrados organizados ou na sequência em que estes acontecem ou numa sequência inventada por quem escreve.
Como atividade-extra, você pode fazer as atividades do nosso blog de redação para o Enem ou esta que propomos abaixo.
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Escreva um texto narrativo na 1ª pessoa. Crie dois personagens adolescentes.

Texto de exemplo

SOB PRESSÃO
ELIAS JOSÉ
Não contei pra ninguém de casa que era promessa, mas pra Marineide não pude esconder. Ela era minha namoradinha na escola. Meu tio dizia que não era bom ficar namorando, pra não me prender de amores, coisa proibida pra padre. Fiquei com aquele "prender de amores" na cabeça e, francamente, não sei se já não estava preso. Eu, que gostava de sair pra praça e de estudar com Marineide, de repente me gelei. Ela, que era minha namoradinha, como diziam na escola, e a gente gostava de ouvir, recebia minha indiferença. Era indiferença só por fora, mas era. Ela quis saber a razão do desprezo, perguntou se não era fofoca dos outros. Achei que não era certo ficar enganando uma pessoa tão boa. Disse que gostava um tantão dela, mas não podia ser. Contei a promessa. Marineide ficou vermelha, passou os braços nos olhos. Não tive coragem de ficar olhando se era lágrima mesmo ou se estava fingindo, como as namoradas nos filmes e novelas.
Marineide não soube segurar a língua nos dentes e contou pra dona Amália, a professora de História. Dona Amália veio me convencer de que a gente deve ser o que tem vocação, que era melhor esquecer a promessa, ou trocar por outra. Ninguém sabe o que quer ser logo nos primeiros anos de ginásio. Nem os meninos do colegial sabiam, como eu ... Meu tio estava errado de me fazer prometer uma coisa dessas. Não que a profissão fosse ruim, como meu pai afirmava, mas precisava de vocação, mais do que qualquer outra.
Fiquei confuso, tinha de cumprir a promessa, pois titia estava em casa, curada. Era bom sentir ela lá, alegrando a gente, mesmo vivendo um pouco distante.
O dia que vi o lencinho branco, bordado com capricho por titia, todo manchado de sangue, fiquei duvidando do valor da promessa. Se não estava curada, eu poderia ser fazendeiro, logo que acabasse o ginásio. Meu pai até me prometeu pôr, se eu quisesse, numa escola agrícola, o que seria uma boa. Minha cabeça doía de pensar. Até evitava muito contato com a Paineira, pra não sofrer depois. Era um sacrifício, pois eu sempre gostava de mexer com os bezerros novos, separar as vacas, curar bicheiras delas, ajudar no plantio ou nas colheitas, sair galopando o meu Russo sem pensar em nada. Nem cuidar do Russo, minha paixão, estava cuidando. Tudo por causa daquela bendita promessa que não adiantou pra nada, pois titia punha sangue no lencinho branco.
Quem sabe foi a minha falta de fé, ao fazer a promessa, que fez titia piorar? Pensar assim é que me doía mais. Comecei a repetir diariamente a promessa, como me aconselhou tio Messias, pra não me esquecer dela e pra Santa Filomena se lembrar sempre de titia.
(Os que podem voar. Belo Horizonte, Comunicação, 1981. p. 28-30 — Coleçâo do Pinto.)

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