Este é mais um exercício que usaremos para treinar o uso do discurso direto e indireto nos textos. Agora, usamos um fragmento do Veríssimo. Procure fazer este exercício e leia a teoria publicada nos artigos anteriores.
1. Leia:
A classe
"A eliminação gradual da classe média brasileira, um processo que começou há anos, mas que de uns tempos para cá assumiu proporções catastróficas, a ponto de a classe média brasileira ser hoje classificada pelas Nações Unidas como uma espécie em extinção, junto com o mico-rosa e a foca-focinho-verde, está preocupando autoridades e conservacionistas nacionais. Estudam-se medidas para acabar com o massacre indiscriminado que vão desde o estabelecimento de cotas anuais - só uma determinada parcela da classe média poderia ser abatida durante uma temporada - até a criação de santuários onde, livre de impostos extorsivos e protegida de contracheques criminosos e custos predatórios, a classe média brasileira se reproduziria até recuperar sua antiga força numérica, e numerária. Uma espécie de reserva de mercado. A tentativa de recriar a classe média brasileira em laboratório, como se sabe, não deu certo. Os protótipos, assim que conseguiram algum dinheiro, fretaram um avião para Disneyworld.
A preservação natural da classe média brasileira evitaria coisas constrangedoras como a recente reunião da classe realizada em São Paulo, à qual, de vários pontos do Brasil, compareceram dezessete pessoas. As outras cinco não conseguiram crédito para a passagem. A reunião teve de ser transferida do Morumbi para a mesa de uma pizzaria, e ninguém pediu vinho. Uma proposta para que a classe fizesse greve nacional para chamar a atenção do país para a sua crescente insignificância foi rejeitada sob a alegação de que ninguém iria notar. Fizeram uma coleta para financiar a eleição de representantes da classe média na Assembleia Constituinte, mas acabaram devolvendo os 10 cruzeiros. A única resolução aprovada foi a de que, para evitar a perseguição, todos se despojassem de sinais ostensivos de serem da classe média, como carro pequeno etc, e passassem a viver como pobres. Aí não seria rebaixamento social, seria disfarce. No fim os garçons se cotizaram e deram uma gorjeta para os integrantes da mesa.
Cenas lamentáveis têm ocorrido também com ex-membros da classe média que, passando para uma classe inferior, não sabem como se comportar e são alvo de desprezo de pobres tradicionais, que os chamam de "novos pobres".
- Viu aquela ali? Quis fazer caneca de lata de óleo e não sabe nem abrir um buraco com prego.
- E usa lata de óleo de milho.
- Metida a pouca coisa...
- Já viram ela num ônibus? Não sabe empurrar a borboleta com a anca enquanto briga com o cobrador.
- E não conta o troco!
- Berço é berço, minha filha.
Alguns pobres menos preconceituosos ainda tentam ajudar os novos pobres a evitar suas gafes.
- Olhe, não leve a mal...
- O quê?
- É o seu jeito de falar.
- Diga-me.
- Você às vezes usa o pronome oblíquo muito certo.
- Mas...
- Aqui na vila, pronome oblíquo certo pega mal. -Sei.
- E outra coisa...
- O quê?
- Os seus discos.
- O toca-discos foi a única coisa que eu consegui salvar quando me despejaram.
- Eu sei. Mas Júlio Iglesias?!
(Luís F. Veríssimo - Comédias da vida pública - 7/07/85)
Transforme a fala abaixo em um discurso indireto. Para tal, imagine que há na cena um narrador que utiliza os verbos introdutórios de fala e faça as modificações que se tornem necessárias.
- O toca-discos foi a única coisa que eu consegui salvar quando me despejaram.
Nenhum comentário :
Postar um comentário